domingo, 13 de setembro de 2009

Lampreia para os "brasileiros"


Para muitos dos aficcionados da boa mesa, a lampreia é um prato imperdível. Com forte contigentação de apreciadores em Portugal e na Galiza, o ciclóstomo entra para a desova nos rios luso-galaicos de finais de Dezembro até Maio. É nessa altura que é convocado para os repastos que fazem as delícias dos palatos ibéricos. Mas o espaço luso-galaico é território de emigração. América do Sul é apelativa para galegos e portuguesas. Ancoram nas antigas colónias dos países de origem. A partida, a distância dos homens da sua pátria, não lhes apaga da memória as suas vivências. Como diria, Rosalia de Castro, a galega que tão bem poetizou o canto da partida

Adiós, ríos; adios, fontes;

adios, regatos pequenos;
adios, vista dos meus ollos:
non sei cando nos veremos.

Miña terra, miña terra,
terra donde me eu criei,
hortiña que quero tanto,
figueiriñas que prantei,

O afastamento do território de origem, a melancolia e os laços afectivos da distância, encurtam-se em cada regresso. É nessas voltas, que muitos daqueles que a milhares de quilómetros edificam dignidade de vida, também matam saudades da mesa prazenteira autóctone. Mas o tempo de lazer não coincide com o ciclo biológico destes ágnatos. Com o advento das primeiras arcas frigoríficas domésticas, a Ponte de Lima, em finais dos anos sessenta, a conservação dos alimentos conheceu impulso mágico. A salga dava lugar à congelação. E com a sua utilização a descoberta de novas possibilidades. Entre elas a conservação da lampreia. É assim que, desde dessa altura, a pensar nos seus amigos apreciadores de lampreia,vindos do Brasil, algumas casas limianas capricham em presentear e surpreender, fora da época, os ilustres visitantes com tão superior manjar. Proporcionar a degustação de lampreia em Agosto e Setembro é para nós um capricho gastronómico. Estamos a fazê-lo este ano pela primeira vez. Mas perante a aceitação evidenciada é para continuar. Com muito prazer.

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