terça-feira, 18 de agosto de 2009

O ABADE DE PRISCOS






É o pudim, mais famoso do Minho: o abade de Priscos. Um dos doces mais saborosos de Portugal. A sua génese situa-se entre o fim do século XIX e o dealbar do XX. O seu autor foi um padre, um abade da freguesia de Priscos (daí o nome), concelho de Braga. Gabado confeiteiro, o Padre Manuel Rebelo paroquiou quatro décadas em Priscos. Pastor de almas e fogões, tinha como devoção máxima, o Sagrado Coração de Jesus e a arte gastronómica. Era realmente grande cozinheiro. Um dos mais emblemáticos que o país já teve, embora nunca se tenha profissionalizado. Preparou banquetes reais e príncipescos. Políticos, diplomatas, aristocratas, intelectuais, artistas e prelados, deliciaram-se com o seu talento. Entre as veredas verdejantes do Minho, calcorreava quilómetros, com a sua maleta recheada de temperos secretos. Ninguém acedia ao seu interior, só ele próprio o fazia.
Desconhece-se o paradeiro do livro de receitas do abade de Priscos. De acordo com fontes familiares, continha as suas melhores concepções. Desaparecido misteriosamente do seu desarrumado escritório,procurou-se em arquivos, bibliotecas e alfarrabistas. Nada se encontrou. A receita do pudim só ficou conhecida, fruto de uma disputa pública e de uma convocatória de última hora para prestação de serviços culinários no Paço Episcopal de Braga. Para demonstrar a teoria de que ninguém conseguia repetir as suas criações, o abade de Priscos desafiou o cozinheiro do Paço, para um duelo de pudins, num almoço para altos dignatários da igreja. Cada um preparou o doce usando os mesmos ingredientes: toucinho fresco, gemas de ovos, açúcar e vinho do Porto. Só variaram as quantidades e alguns procedimentos. A vitória coube ao pároco.Foi aí que o padre Manuel Joaquim Machado Rebelo (1834/1930), natural de Tuiz, Vila Verde e abade de Priscos, perante a insistência de Monsehor Pereira Júnior, secretário da Câmara Eclesiástica, voltou a reafirmar os seus propósitos em recusar-se a ensinar os seus saberes da arte da cozinha. A ele como a outros mais insistentes, respondia. "Não lhe consigo dar, com as receitas, os dedos da minha mão e o meu paladar", respondia ele. O duelo acabou desvendando o segredo de uma das mais emblemáticas da doçaria portuguesa.
Hoje é uma das sobremesa mais ricas da farta mesa minhota. Atentos a isso, muitas vezes é por nós proposto, como postre escolhido do menu Bocados.

Sem comentários: